Ao ler um texto em silêncio, você “ouve” uma voz na sua cabeça, como se as palavras estivessem sendo faladas mentalmente? Isso acontece com muitas pessoas e é tão comum que nem sempre percebemos. Mas por que isso acontece? A ciência tem algumas respostas.
Subvalização: o nome técnico da “voz interna”
A voz que você “ouve” na sua cabeça quando lê em silêncio tem um nome técnico: é chamada de subvocalização.
É o processo mental de pronunciar palavras internamente sem emitir som audível. Mesmo que você não mova seus lábios ou fale em voz alta, seu cérebro simula a fala para ajudar a entender o texto.
A subvocalização é um conceito usado principalmente nas áreas de psicologia cognitiva, neurociência e linguística para descrever esse processo. Mas por que esse fenômeno acontece?
O cabo fonológico
Uma das explicações mais aceitas vem do modelo de memória de trabalho proposto pelo psicólogo britânico Alan BaddeleyEm um artigo publicado na revista Ciência em 1992. Apresenta o conceito de cabo fonológicoUm sistema que armazena soa temporariamente para que possamos processá -los mentalmente.

De acordo com Baddeley, essa alça tem duas partes: armazenamento fonológico, que mantém os sons por alguns segundos, e o controle articulatório, que torna a repetição silenciosa das palavras. Ou seja, quando lemos, estamos desencadeando esse mecanismo para manter as informações vivas na memória e, assim, entendê -las melhor.
O discurso interno: quando a leitura se torna uma conversa interna
Mas o fenômeno vai além. Há também o que os psicólogos chamam discurso internoUma forma mais ampla de linguagem mental que não se limita à leitura, mas está presente em reflexões, tomada de decisão ou pensamentos cotidianos.
De acordo com os pesquisadores Ben Alderson-Day e Charles FernyhoughEm um estudo publicado em 2015 em Boletim psicológicoEsse diálogo interno é uma parte essencial do nosso funcionamento cognitivo. Eles explicam que, quando lemos, essa voz mental simula aspectos uniformes do discurso real, como entonação e ritmo, algo que pode variar de acordo com o estilo daqueles que escrevem ou familiaridade com o conteúdo.

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Como essa voz mental se forma
A origem desse fenômeno remonta à infância. De acordo com a teoria do psicólogo Lev Vygotskyretomado por Alderson-Day e Fernyhough, o discurso interno começa a se formar quando as crianças internalizar conversas com os adultos. O que antes era um diálogo em voz alta está gradualmente se tornando uma conversa silenciosa consigo mesmo.
Com o tempo, esse idioma se transforma: torna -se mais condensado, simbólico e focado no significado. É precisamente essa forma interna de fala que continuamos a usar quando lemos na idade adulta silenciosamente.

Uma simulação rica em detalhes
Curiosamente, nossa mente é capaz de “imitar” vozes reais durante esse processo. Nos testes analisados por Alderson-Day e Fernyhough, com base em estudos anteriores, como Alexander e NygaardOs participantes relataram perceber variações de entonação ou sotaque enquanto liam certos textos, como se ouvissem as linhas com as características das pessoas conhecidas.
Ou seja, a leitura silenciosa é realmente muito barulhenta, pelo menos para o cérebro.