O setor bancário público brasileiro está passando por um momento de tensão em 2025. A combinação de seca no nordeste e o excesso de chuvas no sul pressionou fortemente a capacidade de pagar produtores rurais, levantando a inadimplência e forçando ajustes para os balanços de instituições como Banco do Brasil (BB), Bancon do BNADESTE (BNBE) e BNANC).
O movimento reflete o peso do agronegócio no portfólio dessas instituições e revela como as mudanças climáticas já afetam a solidez financeira dos bancos com forte exposição ao crédito agrícola.
Leia mais:
Os beneficiários do BPC podem se aposentar? Entender as regras
Banco Do Brasil: Fall Expressive em lucros

Líder tradicional em financiamento rural, o Banco do Brasil Foi o mais afetado pela descarga de inadimplência no agronegócio. A taxa de atraso acima de 90 dias saltou de 3% na primeira metade de 2023 para 4,21% no mesmo período de 2025.
Essa piora resultou em uma queda de 40% no lucro líquido ajustado do banco. Enquanto em 2023 o resultado foi de R $ 17,3 bilhões, este ano caiu para R $ 11,2 bilhões. O aumento das disposições para os devedores duvidosos corroíram a lucratividade, forçando a instituição a diversificar as receitas, apostando em consórcios, seguros e fundos de investimento.
Segundo os especialistas, esse cenário pode piorar se o setor agro seguir a instabilidade climática, juntamente com o efeito da taxa selera em 15% ao ano, o que torna o crédito e limita a capacidade de pagamento dos produtores.
CAIXA ECONOMICA endurece as concessões após o salto de inadimplência
A CAIXA ECONOMICA, que expandiu seu papel no crédito rural do governo de Bolsonaro, também registrou um forte avanço na inadimplência. Entre abril e junho de 2025, os atrasos no setor atingiram 7,02%, em comparação com 4,3% no trimestre anterior.
Dada essa estrutura, a instituição começou a restringir a liberação de crédito agrícola. O rápido crescimento da carteira de dívida atrasada levou a área de gerenciamento de riscos a revisar estratégias e reduzir a exposição em segmentos considerados de maior vulnerabilidade.
Especialistas apontam que a rápida deterioração do portfólio rural em Caixa revela os limites da expansão recente e pouco consolidada.
BNB e BASA: a vulnerabilidade regional aumenta o risco
O Banco do Nordeste, com uma forte presença nas áreas punidas da seca, viu o padrão subir de 3,2% em 2023 para 3,61% na primeira metade de 2025. O aumento, embora moderado, preocupa os analistas porque pode pressionar as provisões e comprometer os resultados futuros.
No Banco da Amazônia, o padrão avançou de 1,87% em 2023 para 3,45% em 2025. A seca que afeta a região da Amazônia compromete a produção e a logística agrícola, reduzindo a capacidade de pagamento dos mutuários. O risco climático é apontado como um dos maiores desafios para o banco, cuja carteira está fortemente concentrada em setores diretamente dependente da natureza.
Especialistas apontam para a tendência estrutural


Alto interesse e risco climático no radar
Segundo Henrique Southier, consultor de investimentos dos investimentos rurais, a inadimplência rural requer maior atenção das instituições públicas. O risco climático adicionado à alta taxa de juros tende a manter a pressão nos balanços.
“Esse aumento requer maior atenção do banco, pois pode levar a um aumento nas provisões para devedores duvidosos, o que afetaria o lucro futuro”, disse o analista.
Além disso, a dependência de um setor sujeito a eventos extremos representa uma fragilidade estrutural, especialmente para os bancos regionais.
Pressão de transformação digital
Outro destaque é a corrida para digitalização. De acordo com Alexandre Martins, analista da Modulo Capital, os bancos privados e digitais estão mais nesse processo, enquanto o público ainda enfrenta o desafio de custos operacionais equilibrados com a necessidade de modernizar os serviços.
“Entre os bancos privados, esse movimento já está em um estágio avançado e naturalmente para bancos digitais nativos”, disse Martins.
Futuro do crédito rural e os desafios dos bancos públicos
O cenário atual reforça a necessidade de políticas de mitigação de riscos climáticos mais robustos e diversificação do portfólio de crédito. Para os bancos públicos, que desempenham um papel estratégico no financiamento agrícola, a pressão é ainda maior.
A adoção de seguro agrícola mais acessível, linhas de crédito condicionadas a práticas sustentáveis e programas de adaptação climática pode ser alternativa para reduzir o impacto de eventos extremos na saúde financeira das instituições.
No entanto, embora essas medidas não ganhem escala, o setor bancário continuará a lidar com a volatilidade e os agricultores permanecerão expostos a oscilações climáticas cada vez mais frequentes.
Conclusão
A inadimplência do agronegócio tornou -se um dos principais desafios para os bancos públicos federais até 2025. A combinação de seca, excesso de precipitação e interesse reduziu a capacidade dos produtores e afetou os lucros, especialmente o Banco do Brasil e o CAIXA.
O futuro dependerá não apenas do comportamento climático e econômico, mas também da capacidade dos bancos públicos de adaptar suas estratégias, diversificar as receitas e investir em inovação. Caso contrário, a exposição ao agronegócio continuará sendo uma fonte de vulnerabilidade, com reflexos diretos no desempenho do sistema financeiro nacional.
Imagem: Aves/reprodução do nordeste