Ele está circulando nas redes sociais uma alegação controversa: o governo federal, sob a liderança do presidente Luiz Inacio Lula da Silva, teria decretado 100 anos de confidencialidade sobre os lugares frequentados por Antonio Carlos Camilo Antunes, apelidado de “careca dos INSs”. A publicação, replicada em várias plataformas, sugere que o executivo estaria escondendo informações públicas relevantes.
No entanto, as informações não prosseguem. Esse é outro boato de que distorce as decisões tomadas por outro poder da república-a legislatura, neste caso o Senado Federal.
Leia mais:
CPMI do INSS cancela a reunião por falta do “INSS Bald”

O que o conteúdo que você diz viral?
A publicação que circula nas redes, em tom acusatório, afirma:
“Sério … o governo de Lula decretou 100 anos de confidencialidade sobre documentos com informações sobre os lugares onde o ‘careca dos INSs’ estava se movendo. A pergunta é: por que essa confidencialidade?”
A insinuação é clara: sugerir que o executivo federal está escondendo deliberadamente informações e, portanto, alimentando uma teoria da conivência com práticas criminais investigadas no caso.
Quem é o “careca dos INSs”?
Lobista investigado em escândalo de desconto indevido
Antonio Carlos Camilo Antunes, apelidado de “Bald of the INSs”, ganhou notoriedade por seu envolvimento em um esquema de descontos ilegais aplicados aos aposentados e aposentados do INSS.
Investigações policiais federais revelaram que as entidades de classe estavam cobrando contribuições diretamente da folha de pagamento dos beneficiários, sem autorização formal. Camilo Antunes seria uma peça -chave na engrenagem que operava esses descontos irregulares.
Em setembro de 2025, ele era o alvo dos mandados de busca e apreensão e foi preso preventivamente. Propriedades e carros de luxo foram apreendidos. O lobista também foi convocado para testemunhar na mista Comissão de Inquérito Parlamentar (CPMI) INSSmas não compareceu, apoiado por uma liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
A confidencialidade de 100 anos é?
Sim. Mas não foi o governo federal que decretou
Ao contrário do que as publicações no estado de Redes, o sigilo de 100 anos nos registros de circulação de Antonio Carlos Camilo Antunes não foi determinado pelo presidente Lula ou por qualquer membro do executivo.
A medida veio do Senado Federal e está relacionada aos registros internos da Câmara nos movimentos dos visitantes. A Lei Administrativa que impôs a confidencialidade foi assinada sob a presidência do senador David Alcolumbre (Brasil-AP Union), atualmente responsável pelo primeiro secretário do Conselho do Senado.
Qual é o conteúdo protegido pela confidencialidade?
Informações de circulação do Senado internas
De acordo com documentos públicos e relatórios verificados por veículos como o jornal O globoO sigilo cobre os registros de entrada e saída das pessoas – incluindo o “INSS Bald” – nas instalações do Senado.
A justificativa oficial apresentada pelo Senado foi “garantir a segurança institucional” e a “inviolabilidade da integridade física dos envolvidos”. No entanto, a medida gerou críticas imediatas dos setores da base dominante e da oposição.
Em resumo: este é um ato administrativo que protege o acesso interno ao prédio da legislatura, não do acusado em geral ou em outros locais públicos.
O governo de Lula tem algum relacionamento com esta decisão?


Não. E os parlamentares do governo criticaram a confidencialidade
A tentativa de vincular o governo de Lula à confidencialidade é infundada. A decisão foi tomada exclusivamente dentro do Senado. Não há decreto presidencial, ordenança ministerial ou qualquer ato do executivo sobre esse assunto.
Até os parlamentares alinhados com o governo, como Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), líder do governo no Congresso, se manifestaram criticamente de confidencialidade. O próprio senador declarou em uma entrevista:
“A transparência deve ser a regra. Esse tipo de proteção institucional não é sustentado pelo interesse público em determinar os fatos”.
Além disso, senadores da oposição, como Alessandro Vieira (MDB-SE), também defenderam a violação do sigilo, destacando um raro consenso político em torno da importância da transparência.
100 -Confidencialidade do ano: o que a legislação diz?
Uma prática legal, mas controversa
A imposição de confidencialidade por até 100 anos é prevista pela lei sobre o acesso à informação (Lei nº 12.527/2011). O artigo 31 do padrão permite essa duração para dados que envolvem informações pessoais, como endereços, registros médicos e patrimônio líquido, desde que estejam justificando a intimidade e a segurança dos indivíduos.
No entanto, a aplicação desse tipo de confidencialidade em casos de interesse pública geralmente gera controvérsia, como já aconteceu em episódios anteriores – inclusive em governos anteriores, como o de Jair Bolsonaro.
Em 2023, por exemplo, houve pressão para revogar confidenciais sobre visitas ao Palácio de Alvorada, despesas com cartões corporativos e registros de entrada dos pastores no Ministério da Educação. O Controlador Geral da União (CGU) determinou a abertura de várias informações.
O caso do “careca dos inss” do interesse público?


Claramente, sim
O envolvimento das entidades de classe, a violação dos direitos aposentados e a suposta conluio entre atores políticos e lobistas transformaram o caso em um tema de relevância nacional. Nesse contexto, qualquer tentativa de restringir o acesso à informação deve ser justificada de forma robusta e transparente – o que não ocorreu no caso do Senado.
Além disso, o próprio Senado foi objeto de um pedido formal do Serviço de Promotoria Pública para revisar a medida, reforçando a natureza controversa da confidencialidade imposta.
Imagem: Reprodução/ X.