Um melanogaster de Drosophila: cerca de 75% dos genes conhecidos porque causam doenças em humanos têm um gene correspondente (homólogo) no Drosophil. Graças a isso e à facilidade de manipulação do seu genoma com precisão e rapidez, essas moscas se tornaram modelos inestimáveis para desvendar patologias complexas, como Alzheimer, Parkinson, vários tipos de câncer, diabetes, distúrbios cardíacos e até infecções por vírus zika e Sars-CoV-2. Sanjay Acharya/Wikimedia Commons A ciência brasileira vive uma encruzilhada estratégica. Na última década, o setor enfrentou um cenário de forte contração orçamentária e parágrafo crônico, colocando em risco décadas de progresso e a capacidade do país de gerar conhecimento, tecnologia e soberania. Manter a produção científica qualificada em um ecossistema de poucos recursos financeiros não é apenas um desafio, mas uma questão de sobrevivência para a inovação nacional. Dada essa realidade, a busca por modelos de pesquisa que otimizam cada um investido real se torna imperativo. É nesse contexto que a adoção de modelos animais mais rápidos, baratos e igualmente poderosos e plataformas de pesquisa surge como uma solução vital. Nesse cenário urgente, as pequenas espécies de Drosophila melanogaster, popularmente conhecidas como mosca drosofílica ou gelada, surgem como um protagonista inesperado. Enquanto o público leigo a vê como um incômodo, a comunidade científica internacional a reverencia como um modelo biológico extraordinariamente poderoso, responsável pelo prêmio Nobel e avanços revolucionários. Hoje, no Brasil, a promoção de seu uso não é apenas para seguir uma tendência global, mas adotar uma ferramenta de resiliência científica, capaz de manter a chama da descoberta da carga, mesmo com recursos limitados. Veja também: as formigas são realmente inteligentes? Poder genético e relevância humana O que torna um inseto de alguns milímetros um modelo tão valioso para estudar a biologia humana? A resposta está em nosso passado evolutivo. Cerca de 75% dos genes conhecidos porque causam doenças em humanos têm um gene (homólogo) correspondente no drosofil. Isso significa que os processos biológicos fundamentais – desenvolvimento, proliferação celular, envelhecimento e comunicação neural – são controlados por mecanismos genéticos e moleculares surpreendentemente semelhantes. Graças a essa semelhança e facilidade de manipulação do seu genoma com precisão e rapidez, essas moscas se tornaram modelos inestimáveis para revelar patologias complexas como Alzheimer, Parkinson, vários tipos de câncer, diabetes, distúrbios cardíacos e até infecções por zika e Sars-CoV-2. Com o Drosophyl, os cientistas podem realizar exames genéticos, toxicológicos e farmacológicos, bem como manipular o desenvolvimento e o metabolismo in vivo e rastrear efeitos multigeracionais usando ferramentas moleculares tão poderosas quanto ou melhor do que as usadas em sistemas mais caros. Os Drosophilas fornecem a capacidade de fazer biologia de corte de corte, em um organismo completo, aqui em nosso próprio país! Leia também: Os genes podem prever a resposta de pacientes com câncer de pele a imunoterapia, mostra pesquisas de caminhada perfeitas: existe um número ideal de etapas a serem ativas? Consulte 5 dicas sobre como melhorar o exercício Quantificado A vantagem estratégica estima -se que o custo de realizar experimentos usando essas moscas seja apenas 10% do valor para realizar os mesmos experimentos com ratos ou ratos. Parafraseando o Dr. Hugo Bellen, do Baylor’s College, “10 vezes mais biologia é obtida por dólar investido em Drosophyl do que o mouse” – e com o mesmo potencial para descobertas de alto impacto, é digno de nota. Para contornar os obstáculos regulatórios e os altos custos de experimentação com mamíferos, muitos cientistas brasileiros recorrem a modelos de cultura de células, que têm suas próprias limitações. Em uma análise recente com dados de fornecedores brasileiros, comparamos os custos para estabelecer e manter um laboratório de Drosophylae (comumente chamado FlyLab) e uma cultura de células por um ano no país. Os resultados são decisivos para o cenário nacional: a pesquisa de Drosophyl é quase três vezes mais barata que a manutenção de culturas de células de mamíferos. Se considerarmos apenas consumíveis não duráveis, os custos anuais das moscas são quase 7 vezes mais baixos. Esses números provam que a Drosofil não é apenas uma alternativa aos roedores, mas uma plataforma economicamente superior ainda é amplamente usada em modelos in vitro. É muito comum associar baixo custo a baixo impacto ou menor qualidade, mas no caso de Drosophyl, o custo reduzido é uma vantagem e não um defeito. O paradoxo brasileiro e a urgência de adotar modelos alternativos de pesquisa diante de evidências tão robustas, o Brasil tem um cenário histórico paradoxal. Embora os poderes científicos otimizem seus recursos com Drosophyla, nosso país subutiliza esse modelo, insistindo desproporcionalmente em plataformas mais caras desde os estágios iniciais da pesquisa. Essa escolha, no cenário atual de austeridade, representa um desperdício de recursos escassos, um freio à inovação e uma perda de competitividade. Portanto, uma etapa decisiva para reverter essa imagem repousa sobre as agências de desenvolvimento brasileiras, como CNPQ, Capes e Pesquisa Estadual (FAPS). É imperativo que essas instituições assumam um papel protagonista na promoção estratégica de Drosophila. A criação de decretos específicos não seria apenas um incentivo, mas uma declaração de política científica. Tais chamadas otimizariam o uso de recursos públicos, apoiariam uma nova geração de cientistas e acelerariam a pesquisa nacional. Investir no uso ativo de Drosophila como modelo animal é semear um ecossistema de inovação biomédica ágil, resiliente e competitiva, fortalecendo a base científica essencial para transformar a realidade e a soberania do Brasil. *Marcus F. Oliveira é professor do Instituto de Bioquímica Médica Leopoldo de Meis (IBQM), Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). *Marcos T. Oliveira é professor associado do Departamento de Bioquímica e Imunologia do FMRP, Universidade de São Paulo (USP). ** Este texto foi publicado originalmente no site da conversa Brasil.
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