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sexta-feira, agosto 22, 2025

Parque Nacional da Tijuca: a maior floresta urbana do mundo também guarda um tesouro histórico e cultural

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Fotos do Parque Nacional Tijuca Vitor Marigo da perspectiva ocidental contemporânea, quando pensamos na “natureza”, é comum imaginar ecossistemas selvagens intocados, onde a influência humana não é percebida. Em outras palavras, geralmente entendemos a natureza como o local onde o ser humano não está, nem era. Nesta lógica, ainda é comum para quem vive ou visita o Rio de Janeiro concebe a floresta do Parque Nacional Tijuca como um bom exemplo de natureza intocada. Afinal, é uma floresta dentro de uma unidade de conservação de proteção integral, que apenas permite o uso indireto de seus recursos naturais. Esse tipo de área protegida – o parque – tem como um de seus objetivos para permitir “recreação em contato com a natureza”. Ou seja, a natureza existe, dentro dos limites do parque, para que possamos visitá -lo em nossas fugas necessárias das cidades. Por outro lado, estamos aqui fora de nossas florestas de concreto. Mas está certo? Essa separação entre humanos e natureza é realmente real? Não temos uma pequena cidade na floresta e a floresta na cidade? Para responder a essas perguntas, precisamos olhar para a história ambiental dessas florestas – e a cidade ao seu redor. Hoje, a área inserida neste parque de terras mais visitada no Brasil foi palco de um dos reflorestamentos mais notáveis ​​da história do país. Entre 1862 e 1894, o major Manuel Gomes Archer e Thomaz Nogueira da Gama reflorestou – com a ajuda fundamental de 11 escravos – uma área de aproximadamente 300 campos de futebol na área onde está o parque hoje. Embora muito representativo, isso corresponde a apenas 8% da área atual do Parque da Tijuca, concentrada principalmente no bairro Alto da Boa Vista. Embora direta e indiretamente influenciada por esse empreendimento, o retorno do resto da floresta hoje presente no parque e em outras áreas do maciário de Tijuca ocorreu sem o incire de árvores através da regeneração natural. Esse retorno, no entanto, trouxe uma floresta diferente daquele que existia anteriormente. Além disso, o notável processo de regeneração da floresta acabou se escondendo, sob a xícara de novas árvores que surgiram, várias marcas de uma presença humana antes da floresta que conhecemos hoje. Muitas dessas marcas nos ajudam a contar parte da história que não está presente em livros e documentos. Parte dessas evidências precisa de um olhar atento de especialistas para serem percebidos. Outros, no entanto, estão bem abertos aos olhos dos visitantes de Parque da Tijuca. Reprodução do Parque Nacional Tijuca/trilhas RJ2, fábricas, fazendas, carvão e pomares Uma das evidências mais leves são as trilhas e caminhos antigos usados ​​para drenar os vários produtos dos enormes, como lenha, carvão e café. Alguns desses caminhos também têm sapatos de pedra, como as famosas trilhas de Pedra Da Gávea, Pedra Bonita e Transcarioca. Muitas trilhas levam a ruínas de velhas fábricas de cana e fazendas de café, como as ruínas de Mocke, que mantêm parte da história da maior fazenda de café do Rio de Janeiro na primeira metade do século XIX. Em torno desses edifícios, não é incomum encontrar garrafas velhas sob o terreno da floresta. Aquedutos, paredes de pedra e fundações de casas antigas são alguns dos mais de 150 vestígios de construções humanas de diferentes épocas, ainda presentes na floresta. Alguns desses traços estão relacionados à produção de carvão, que foi a principal fonte de energia do Rio de Janeiro até a primeira metade do século XX. Carvoiros que trabalham lá extraindo madeira e produzindo carvão frequentemente precisavam de bosques temporários na floresta. Os vestígios desses carvões também permanecem na floresta. Até o momento, mais de 380 antigas áreas de produção de carvão foram encontradas no Parque Nacional Tijuca e nas áreas adjacentes. Árvores exóticas foram incorporadas à paisagem e cultura que as árvores do parque também contam muita história. As figueiras do centenário permanecem na floresta como verdadeiros anciãos. Eles foram poupados de cortar durante os anos de remoção da vegetação por causa de seu valor simbólico e religioso, destacando o reflexo da cultura na trajetória da floresta ao longo dos anos. Outras espécies ritualísticas, como San-Jorge Sword e com me-inninguém-can, importantes nas religiões da matriz africana, vivem lá há muito tempo. A floresta de hoje também incorporou seus remanescentes de domínio de antigos pomares e campos. Frutas exóticas, como banana, manga, jambo, jamelão e fruta -pão (todas nativas da Ásia) são incomumente encontradas em áreas supostamente isoladas da floresta, atestando que havia uma gestão da área: um pomar ou, talvez, o quintal de uma casa. Talvez a árvore exótica mais impressionante do parque seja Jaqueira, uma espécie originária do sudeste da Ásia que provavelmente atingiu o maciço de Tijuca no início do século XVIII. Devido à sua popularidade como espécie ornamental e de frutas, a jaqueta foi amplamente utilizada nas várias fazendas estabelecidas lá. Mas foi particularmente apreciado pela africana escravizada e Quilombolas, que a incorporou em sua dieta, transformando Jaqueira em uma importante espécie de companhia em sua cultura. Hoje, os jaquetas ocupam uma parte considerável da cobertura da vegetação da floresta. Existem mais de 9.000 deles identificados em apenas dois dos quatro setores do parque e sua zona de amortecimento. No entanto, está curioso para observar que sua distribuição é restrita a locais anteriormente gerenciados por seres humanos, já que 90% das áreas com Jaqueira são próximas de ruínas antigas, carvão e áreas de borda florestal. Ou seja, as jaquetas estão onde o ser humano está (ou ainda está). É, portanto, uma espécie que foi oportunista ao se estabelecer em lugares antropizados e abandonados e que serve como um bioindicador de atividades passadas. Ao auxiliar (re) tarefa informando a história da floresta, essas marcas podem ser consideradas como verdadeiros documentos históricos. As evidências nos ajudam a entender essa floresta como uma paisagem dinâmica que é o resultado de um longo processo de interação entre ser humano e natureza. A floresta do Parque Nacional Tijuca destaca as linhas tênues entre natureza e cultura, entre selvagens e civilizadas, humanas ou não humanas. É, portanto, uma floresta que, além da herança natural, é um enorme tesouro cultural do Rio de Janeiro. COP30 – Onde estará o COP 30? Vicente Leal E. Fernandez recebe financiamento da Coordenação de Melhoria do Pessoal do Ensino Superior (CAPES). Alexandro Solorzano não consulta, trabalha, tem ações ou recebe financiamento de qualquer empresa ou organização que possa se beneficiar da publicação deste artigo e não revelou nenhum vínculo relevante além de sua posição acadêmica.



g1

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