O HIV (vírus da imunodeficiência humana) é um dos vírus mais estudados na medicina moderna, devido à sua capacidade de atacar o sistema imunológico e levar à AIDS se não for tratado.
Apesar dos enormes avanços na prevenção e tratamento, ainda há muitas dúvidas sobre o que a ciência sabe hoje, incluindo se há ou não “imune” ao vírus. Essas perguntas movem medos, esperanças e às vezes com mitos.
Nos últimos anos, os pesquisadores encontraram casos muito especiais de pessoas que, até expostas ao HIV, não infectaram ou conseguiram controlar o vírus por períodos muito longos sem medicamentos.
Esses casos geram hipóteses em mutações genéticas, resistência natural ou outros mecanismos imunológicos ainda conhecidos. Por outro lado, existem limites claros sobre o que realmente significa “ser imune”, e é importante diferenciar imunidade completa, parcial, de remissão ou controle.
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Confira abaixo se é possível nascer ou se tornar imune ao HIV, qual medicamento provou, as mutações genéticas envolvidas, os casos conhecidos e o que realmente significa na prática.
É possível nascer ou se tornar imune ao HIV?
O HIV é um retrovírus que ataca principalmente células imunes, especialmente linfócitos CD4, células T auxiliares. Ele precisa se ligar a essas células para inseri -las, replicar seu material genético e produzir novas partículas virais. Quando não há tratamento, isso diminui o número de células CD4, enfraquecendo a resposta imune e abrindo espaço para infecções oportunistas.
O formulário de transmissão inclui contato com fluidos corporais contaminados, como sangue, sêmen, fluidos vaginais, leite materno, entre outros. Também pode haver transmissão vertical de mãe para filho durante a gravidez, parto ou amamentação se não houver intervenção adequada.
Medidas preventivas, que incluem o uso de preservativos, tratamento anti -retroviral para pessoas que vivem com HIV, profilaxia antes ou após a exposição, reduziram bastante novos casos ao longo dos anos.
Com o tempo, o conhecimento médico sobre o HIV evoluiu muito. Do diagnóstico inicial que foi quase uma certa frase, evoluímos para ter terapias anti -retrovirais (TAR) que permitem que você viva décadas com qualidade.
Além disso, há casos de “controladores de elite”, que são pessoas que mantêm o vírus em níveis tão baixos que mal são detectados; E também temos várias pesquisas sobre mutações genéticas que fornecem alguma forma de resistência ou proteção parcial ao vírus.

O que significa “imunidade” ou “resistência natural”
Quando conversamos se alguém pode ser “imune” ao HIV, precisamos esclarecer que a imunidade completa significa que mesmo exposto ao vírus repetidamente, essa pessoa nunca é infectada com nenhum de seus tecidos ou células.
A resistência ou proteção parcial já pode significar que o HIV tem dificuldade em infectar, ou infectar, mas progride muito mais lentamente, ou que o sistema imunológico pode manter o vírus sob controle sem causar doenças.
A verdade é que os casos de imunidade completa são extremamente raros e, mesmo onde existem mutações ou habilidades genéticas, essa proteção geralmente é válida apenas para certos tipos de cepas de HIV, como aqueles que usam um receptor específico para entrar nas células. Existem também variantes virais que podem “contornar” algumas dessas barreiras genéticas ou imunológicas.
Um dos mecanismos de resistência ao HIV mais estudados envolve o gene CCR5, que codifica uma proteína, um receptor, na superfície das células imunológicas. Muitos vírus do HIV usam esse receptor como um “gateway” (co-receptor) para infectar células CD4. A mutação chamada CCR5-Δ32 é uma deleção de 32 pares de bases no código do gene, o que resulta em receptor truncado ou ausente na superfície celular.
As pessoas que herdam duas cópias da mutação (uma de cada pai), chamadas CCR5-32/Δ32 homozigotas, apresentam uma resistência muito significativa às infecções por HIV que dependem do receptor CCR5 (as cepas “r5-trópicas”). Isso significa que, para esses vírus, a porta de entrada não está disponível.
No entanto, existem limitações, pois algumas cepas de HIV usam outros receptores (como CXCR4) ou cepas mistas (que podem usar CCR5 ou CXCR4), e estes podem infectar mesmo aqueles que têm a mutação homozygota CCR5-Δ32. Além disso, a mutação é muito rara, principalmente em populações fora da Europa.
Um dos casos mais importantes é o do paciente conhecido como “paciente de Berlim”, que recebeu transplante de medula óssea do doador homozigoto para CCR5-Δ32, e obteve controle duradouro do HIV.
Há também casos de pessoas expostas repetidamente ao HIV que parecem não infectar, ou mantêm o vírus em níveis tão baixos que não progridem na AIDS e são chamados de “expostos não infectados” ou “resistentes naturais”. Esses casos são objetos de estudo para entender os mecanismos de defesa do corpo que vão além da mutação única.

Nascido “imune” para o HIV: Existe?
Até agora, não há evidências científicas de que se possa nascer completamente imune ao HIV no sentido absoluto, sem nenhuma possibilidade de infecção para todas as cepas virais sem intervenção médica. Somente se nascer com mutações como CCR5-Δ32/Δ32 que dão resistência significativa a cepas que usam esse receptor, mas isso não garante imunidade a todos os tipos de HIV.
No caso de transmissão vertical (mãe para filho), quando a mãe está sob tratamento anti -retroviral eficaz, o risco de infecção do bebê pode ser quase zero. Esse controle terapêutico permite manter o vírus em níveis muito baixos ou indetectáveis, reduzindo consideravelmente o risco de transmissão para o bebê. Mas isso não pode ser considerado uma “imunidade natural”, mas prevenção médica.
Ainda não existe uma forma comprovada de “vacinar” ou treinar o corpo para se tornar imune ao HIV na direção completa, embora existam vacinas experimentais, terapias genéticas e medicamentos destinados a mecanismos como CCR5. Pesquisas com edição genética, como o CRISPR, estão em andamento para ver se é possível modificar as células de seu próprio corpo, para que elas se tornem resistentes ao vírus.
Outra forma de controle é o que é chamado de “controladores de elite”: pessoas que contrataram o HIV, mas cujo sistema imunológico pode manter o vírus em níveis extremamente baixos por muitos anos, sem tratamento, embora não sejam tecnicamente “imunes”. Eles não eliminam completamente o vírus, mas vivem com ele como latente, sem a evolução da AIDS por longos períodos.

Mesmo com mutações como CCR5-Δ32, ainda existem riscos, pois a mutação não protege contra todas as cepas de HIV. Além disso, o uso de terapia genética ou transplantes de medula óssea traz altos riscos médicos. Essas intervenções são complicadas, caras e invasivas, com possíveis efeitos colaterais, não sendo soluções amplamente disponíveis.
Há também o perigo de que, por serem “resistentes”, algumas pessoas não seguem medidas preventivas, como uso de preservativos, testes etc., que podem levar à infecção, especialmente se expostos a diferentes cepas ou se houver falhas no sistema imunológico.
A medicina reconhece que existem pessoas com resistência natural ao HIV, especialmente graças a mutações genéticas, modelos de estudo e casos excepcionais. Mas afirmar que há imunidade universal ou que qualquer um pode, sem riscos, ser infectado, independentemente da exposição, não tem base científica.
Portanto, a pesquisa continua, com estudos de genética populacional, terapias com bloqueios de receptores, vacinas ou anticorpos neutralizantes, tratamento precoce e intervenções inovadoras, como edição genética. O objetivo é aumentar a proteção, reduzir as infecções e, talvez, no futuro, chegue perto de algo como imunidade para mais pessoas.