Especialistas consultados pelo G1 indicam que os efeitos ainda chegarão e que a inflação americana deve ter avanços nos próximos meses, dependendo de como as tarifas de Trump são definidas. Trump diz que os EUA fecharam o acordo tarifário com a China as incertezas em torno das tarifas anunciadas pelo presidente dos EUA, Donald Trump, afetaram a confiança de empresas e consumidores na maior economia do mundo este ano. Segundo os especialistas ouvidos pelo G1, não deve demorar muito para que os impactos mais relevantes comecem a refletir sobre a inflação. Nesta quarta -feira (11), a inflação nos Estados Unidos aumentou menos do que o esperado pelo mercado financeiro. O Índice de Preços ao Consumidor (CPI) avançou apenas 0,1% em maio, diminuindo em comparação com abril (0,2%). Nos 12 meses acumulados, a inflação foi de 2,4%, ainda acima da meta de 2% estabelecida pelo Federal Reserve (Fed), o Banco Central. Embora a trajetória de preços ofereça algum alívio ao BC dos EUA, permitindo que o interesse mantenha, os economistas afirmam que os dados ainda não refletem os efeitos das taxas de importação de Trump e que os preços não escaparão dos impactos das tarifas. “As tarifas de Trump trazem uma agenda econômica mais individualista e menos globalizada, e é natural que vemos menos crescimento na economia dos EUA, bem como preços mais altos. E isso deve ser refletido no resto do mundo”, diz Hudson Bessa, economista e professor da Fipecafi. Alguns fatores contribuíram para adiar os efeitos das taxas na inflação. De acordo com Matheus Pizzani, economista da CM Capital, um deles é o perfil da inflação nos EUA, atualmente concentrado no setor de serviços. “O setor de serviços, que é o mais preocupante do Fed na conjuntura atual, e não sofrerá necessariamente o impacto direto da nova política tarifária de Trump”, explica o especialista. Isso ocorre porque os preços tendem a aumentar apenas o setor de serviços quando a inflação já começou a alcançar o segmento de mercadorias e indústria. Outro fator que contribui para adiar um aumento mais significativo nos preços dos consumidores é o aumento dos inventários observados nos últimos meses. Na tentativa de antecipar a tarifa de Trump, muitas empresas nos EUA intensificaram suas compras, nacionais e internacionais. “Como já havia uma expectativa das empresas, vimos uma forte antecipação das importações dos EUA na tentativa de importar com tarifas antigas”, diz o economista de ativos ocidentais Adauto Lima. Esse movimento já afetou a economia americana. De acordo com o Departamento de Comércio dos EUA, o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 0,2% na taxa anualizada do primeiro trimestre deste ano, enquanto o mercado esperava um aumento de 0,3%. A queda foi puxada com precisão pelas importações, que cresceram 41,3% nos primeiros três meses do ano – o maior avanço desde 2020 – e uma redução de 4,83 pontos percentuais no PIB. Isso aumentou o crescimento modesto das exportações e gerou um déficit comercial significativo (ou seja, importações mais altas que as exportações). “Espera -se que apenas comece a ver um efeito nos preços dos consumidores quando o inventário começar a terminar”, diz o gerente de multimarkets de Warren, Eduardo Grübler. Finalmente, os especialistas avaliam que essa imagem deve se consolidar à medida que os acordos comerciais dos EUA com seus parceiros avançam. Além do Reino Unido, o país também anunciou o encaminhamento de um acordo com a China, após uma rodada de duas negociações entre representantes das duas nações. O acordo ainda depende da aprovação de Trump e do presidente chinês Xi Jinping para começar a ser válido, mas o Secretário de Comércio, Howard Lutnick, disse na quarta -feira (11) que as tarifas contra a China não mudarão a partir de agora. Como está o Brasil? De acordo com especialistas consultados pelo G1, apesar do possível impacto indireto das tarifas e da descarga da inflação nos Estados Unidos, os efeitos para o Brasil tendem a ser mais positivos. De acordo com Matheus Pizzani de CM Capital, embora haja uma ligeira quitação na inflação brasileira – um reflexo de uma taxa de câmbio mais desvalorizada – a relação entre a China e os Estados Unidos pode ter efeitos positivos para o Brasil a médio e longo prazo. “Primeiro, porque, dependendo de como a relação entre os dois países parecerá, pode haver novas oportunidades de exportação para o Brasil. Isso pode melhorar o equilíbrio de commodities e o setor agrícola, além de causar respiração à taxa de câmbio com o aumento do fluxo de dólares”, explica ele. Os dados da Câmara de Comércio Americanos (AMCHAM) indicam que as exportações brasileiras para os EUA totalizaram US $ 16,7 bilhões entre janeiro e maio deste ano, um crescimento de 5% no mesmo período de 2024 e um recorde para o intervalo. Os especialistas também destacam outras possibilidades favoráveis para o Brasil, como uma possível queda de preço, impulsionada pelo aumento da oferta de produtos estrangeiros no mercado doméstico. “Mas a verdade é que ainda não podemos prever o que acontecerá à frente. Ainda há muita incerteza, e essas interações ainda serão calibradas ao longo do tempo”, conclui Grübler de Warren.
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