Imagine um camponês, sentado ao lado da casa, surpreso com uma bola de fogo mais brilhante do que o sol atravessando o céu. De repente, um flash ainda mais intenso. Uma rajada de calor faz com que a pele queimasse debaixo das roupas. Sem entender o que estava acontecendo, ele vê o céu ficar avermelhado no horizonte e toda a floresta abaixo parecia queimar fogo. Um grande cogumelo de fumaça se forma e alguns minutos depois vem o pior: um grande acidente! Uma onda de choque avassalador varre tudo ao seu redor e bate nele, jogando -o fora. Este evento, transformado em 30 de junho, no Dia Internacional do Asteróide (Dia do Asteróide)
Esta poderia ser uma cena de um filme de ficção, mas foi o testemunho de um camponês que testemunhou o que aconteceu na manhã de 30 de junho de 1908, nas extremidades da Sibéria, em um dos episódios mais intrigantes da história moderna. Na véspera do dia do asteróide, quando refletimos sobre os riscos de que o impacto de uma rocha espacial possa representar para o nosso planeta, é impossível não lembrar dessa história e do cientista russo que atravessou uma das regiões mais remotas da Terra para nos contar o que havia acontecido naquela manhã. O nome dele era Leonid Kulik – Protagonista de uma das expedições científicas mais fascinantes do século XX, a expedição que procurou entender o misterioso evento de Tunguska.
Leonid Alekseyevich Kulik era uma mineralogia russa nascida na Estônia em 1883. Em 1904, ingressou no Instituto Imperial de Florestas em São Petersburgo, mas foi expulso por participar de protestos estudantis. Naquela época, o Império Russo estava passando por uma crise política, o que desencadearia a revolução comunista anos depois. Sumorado, Kulik serviu o exército na guerra russa-japonesa entre 1904 e 1905 e na Primeira Guerra Mundial entre a guerra e outro, ele compartilhou seu tempo entre estudos e prisão, onde ficou preso por atividades políticas revolucionárias. Em meio a guerras e revoluções, Kulik desenvolveu um interesse especial nos meteoritos.
Em 1921, ele criou o Departamento de Meteoritics no Museu Mineralológico de São Petersburgo e organizou uma primeira expedição aos candidatos a meteoritos de pesquisa na Sibéria e Sratov.
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Durante a viagem, ele estava particularmente interessado em relatos da região de Tunguska sobre um fenômeno celestial que Kulik concluiu que é um grande impacto de uma rocha espacial. Mas apenas em 1927, já formado em mineralogia e com a União Soviética então politicamente mais estável, foi possível realizar uma expedição científica dedicada ao estudo do evento que ocorreu em Tunguska, quase duas décadas antes. Kulik esperava encontrar uma cratera e um meteorito gigantesco, mas se deparou com um cenário assustador, marcado por devastação e mistérios.
Essa tarefa estava longe de ser simples. A região era (e ainda) difícil de alcançar, coberta por pântanos, florestas densas e um resfriado agudo. Não havia estradas lá, nem linhas de trem e rios estavam constantemente congelados. Além disso, os poucos habitantes locais ainda conversavam com medo sobre o “fogo do céu”. Eles pensaram que haviam sido punidos pelos deuses. Mas Kulik persistiu. Ele enfrentou negros, doenças e condições extremas. Ele recebeu testemunhos suficientes para estimar a trajetória da rocha espacial e alcançar o epicentro da explosão.

E o que ele encontrou lá o deixou perplexo. As árvores estavam todas mentindo como se tivessem sido varridas por uma onda de choque. A explosão parecia ter se espalhado de um ponto central, onde ele se deparou com algo ainda mais intrigante: os troncos verticais dos pinheiros estavam todos de pé, mas seus galhos foram rasgados por uma força de cima. E para sua surpresa, não havia cratera. Não havia buraco, meteoritos e nem traços de um corpo celestial. Apenas lama, árvores queimadas e um silêncio perturbador.
Isso não fez sentido. Se impactos muito menores deixaram os meteoritos à frente, por que não havia muitos deles lá? Kulik passou anos procurando por eles. Ele fez novas expedições na década de 1930, ele revistou o chão, drenou pântanos inteiros, cavou buracos e quanto mais ele cavou, mais profundo esse mistério se tornava. Mesmo assim, Kulik nunca abandonou a hipótese do impacto. Ele estava convencido de que o evento de Tunguska foi o resultado de uma colisão cósmica – mesmo que os detalhes escapassem.

Infelizmente, seu trabalho foi novamente interrompido por um novo conflito: a Segunda Guerra Mundial. Kulik defendeu seu país da invasão alemã, mas foi ferido e capturado. Ele morreu em 1942, em um campo de concentração nazista, incapaz de resolver o grande quebra -cabeça ao qual dedicou sua vida a estudar.
Mas, graças aos seus esforços e aos estudos realizados nas décadas seguintes, hoje sabemos que os impactos dessa magnitude produzem energia suficiente para vaporizar completamente grande parte da rocha espacial. Os dados coletados em campo por Kulik sugerem que um asteróide rochoso, com cerca de 70 metros de diâmetro, atingiu a Terra mais de 20 quilômetros por segundo em 30 de junho de 1908. Teria explodido entre 5 a 10 km de altitude, liberando uma energia equivalente a 1000 bombas nucleares. O calor da explosão queimou as árvores e a onda de choque devastou a floresta, gerou tremores de terra detectados em sismógrafos de toda a Europa e lançaram pessoas a até 65 quilômetros de distância, como o camponês citado no início.
Embora ele não tenha resolvido completamente o enigma, Kulik estava certo, e seu trabalho foi fundamental para a nossa compreensão dos grandes impactos cósmicos. Hoje, o Dia do asteróideé comemorado todos os anos em 30 de junhoPrecisamente na alusão a Tunguska, o maior evento de impacto na história recente da humanidade. Uma maneira de lembrar que essas colisões cósmicas não são apenas coisas desavisadas de dinossauros – ou Hollywood.

Graças a Leonid Kulik, sabemos a extensão dos danos causados por um asteróide relativamente pequeno e podemos imaginar o que aconteceria se algo assim fosse sobre uma grande metrópole. Isso, sem dúvida, nos mostra a importância de seguir os vigilantes, com olhos no céu e pés na terra, protegendo nosso planeta dos perigos provenientes do espaço!