O anúncio oficial do corte de R $ 31,3 bilhões em fundos no orçamento da União para 2025 acendeu o aviso sobre a direção das políticas públicas no país. Para cumprir os limites da nova estrutura tributária, o governo do Presidente Luiz Inacio Lula da Silva decidiu realizar restrições e blocos que afetam diretamente setores estratégicos, como Seguro Social, Habitação, Saúde Pública, Ciência e Infraestrutura. Os únicos poupados foram os ministérios da educação e do banco central.
De acordo com os detalhes apresentados pelo Ministério do Planejamento, os cortes foram divididos entre R $ 24,2 bilhões retirados diretamente dos ministérios, incluindo recursos do PAC (Programa de Aceleração de Crescimento) e R $ 7,1 bilhões das emendas parlamentares. Dois ministérios – desenvolvimento regional e desenvolvimento social – ainda não relataram quais programas aplicarão o congelamento adicional de R $ 3,3 bilhões.
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Programas sociais e serviços básicos estão entre os mais afetados

O INSS sofre novo golpe: R $ 425 milhões bloqueados
Entre os cortes mais significativos que geram preocupação está o bloqueio de R $ 425 milhões para o Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS). A quantidade removida afeta diretamente a operação das agências, que já enfrentam filas, cuidados lentos e relatórios de fraude. A contingência pode comprometer ainda mais o acesso a serviços como aposentadoria, ajuda e conhecimento médico.
Em um cenário em que a Previdência Social já está sob forte pressão com o crescimento do número de beneficiários do BPC (benefício contínuo) e decisões judiciais que expandem o acesso a esse direito, o corte revela uma contradição entre a crescente demanda e o encolhimento da estrutura de serviço.
Minha casa, minha vida perde US $ 2,1 bilhões
Outro programa severamente afetado é a minha casa, Menha Vida, que teve US $ 2,1 bilhões retirados do seu orçamento. O corte representa o maior impacto individual entre todos os projetos analisados. Com isso, novas contratações e a continuidade dos trabalhos em andamento são ameaçados, especialmente em faixas que servem famílias de baixa renda.
O programa, que havia sido retomado com destaque no terceiro mandato de Lula, pode ver sua expansão travada antes mesmo de atingir os objetivos esperados para os próximos anos.
Farmácia popular perde a capacidade de distribuição
O popular programa de farmácia também entrou na lista de áreas afetadas com um corte de US $ 226 milhões. Essa redução deve afetar a oferta de medicamentos gratuitos à população de baixa renda. Os municípios com maior vulnerabilidade social, que dependem desses recursos para garantir o acesso à saúde básica, podem ser os mais danificados.
Segundo especialistas, a redução do orçamento do programa compromete o inventário de medicamentos para doenças crônicas como hipertensão, diabetes e asma, bem como contraceptivos e fraldas geriátricas.
Ciência, pesquisa e inovação em risco
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação perdeu R $ 425 milhões em recursos planejados para 2025. Bolsas de estudo científicas de pesquisa e programas de incentivo à inovação, que já enfrentaram dificuldades financeiras, correm o risco de ficar paralisado. Estudantes do ensino médio, graduação, mestrado e doutorado podem ser diretamente afetados.
A comunidade científica nacional expressou preocupação com o impacto do corte, observando que a descontinuidade na pesquisa estratégica pode comprometer o desenvolvimento tecnológico do país e remover jovens talentos da carreira científica.
A infraestrutura ferroviária perde o investimento
Os investimentos federais focados na infraestrutura ferroviária também foram reduzidos em R $ 488 milhões. O valor estava programado para projetos de concessão em parceria com o setor privado, com foco na modernização e expansão da Rede Ferroviária Nacional. A medida pode atrasar os trabalhos planejados, afetando o fluxo da produção agrícola e industrial.
Entre o ajuste fiscal e a continuidade das políticas públicas

A nova estrutura tributária impõe contenção preventiva
A justificativa para o corte generalizado de fundos está em conformidade com a nova estrutura tributária aprovada em 2023, que substituiu o teto de gastos anteriores. O modelo impõe um limite para o crescimento das despesas públicas e permite blocos preventivos quando há um risco de não conformidade com as metas.
Durante uma audiência pública na Câmara dos Deputados, o ministro das Finanças, Fernando Haddad, defendeu a necessidade de ajustes e apontou que parte da pressão sobre os gastos com judiciações que expandem os direitos sociais, como o BPC. De acordo com o Tribunal Federal de Auditoria (TCU), mudanças legislativas recentes e decisões judiciais facilitaram o acesso ao benefício, expandindo o volume de pagamentos obrigatórios.
A contingência pode ser revertida ao longo do ano
Apesar do cenário de contenção, o governo federal sinalizou que parte dos valores de contingência pode ser divulgada ao longo do ano, dependendo da evolução da coleção. Os relatórios bimestrais do IRS devem orientar possíveis desbloqueios, especialmente se houver um aumento na receita tributária ou na recuperação econômica.
No entanto, os especialistas alertam que a instabilidade do orçamento compromete o planejamento de políticas públicas. “Execução fragmentada, sob ameaça constante de cortes, reduz a capacidade de resposta do estado e desencoraja investimentos a longo prazo”, explica a economista Mariana Lima, do Instituto de Estudos Econômicos e Sociais.
Impacto político e social
O corte do orçamento coloca o governo de Lula diante de um dilema: como equilibrar a responsabilidade fiscal pela preservação de programas sociais que eram marcas históricas do próprio presidente? A decisão de não cortar recursos educacionais indica uma tentativa de preservar a imagem do compromisso com os setores populares, mas o impacto em outras áreas sensíveis pode gerar desgaste político.
A repercussão no Congresso Nacional também tende a aumentar, especialmente com o corte de R $ 7,1 bilhões em emendas parlamentares – mecanismo frequentemente usado por deputados e senadores para garantir obras e projetos em suas bases eleitorais.
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