O Brasil corre o risco de perder oportunidades históricas na área de inovação, adotando uma posição crítica e suspeita diante da tecnologia. A avaliação é de Diego Barreto, CEO da ifoodquem participou do painel “Tecnologia e negócios” Durante o evento, o Do & Speak 2025, realizado no Museu de Amanhã, no Rio de Janeiro.
Segundo o executivo, o país ainda carrega uma mentalidade que impede os avanços em larga escala. “Vemos o desenvolvimento e, antes de experimentar ou entender, já começa a criticar. Se sim, Santos Dumont nunca teria inventado o avião”, disse ele.
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Barreto comparou o momento atual de inovação no Brasil em 1922, quando os artistas modernistas ousaram quebrar padrões estéticos e culturais. Para ele, o país precisa de uma “atitude modernista” diante das transformações digitais.
“Devemos ter petulância para enfrentar vaias e insistir em algo novo. Os modernistas sabiam que seriam criticados, mas eles subiram ao palco. Esse é o espírito que não tem hoje a inovação brasileira”, disse ele.
O legado da ousadia
A comparação não é estética, mas de comportamento. Como os modernistas quebraram com influências externas, Barreto defende uma postura antropofágico Face à tecnologia: absorva referências globais e transforme -as em soluções genuinamente brasileiras.
De microinformática a celular: Access Revolutions
O CEO lembrou três grandes marcos na história tecnológica:
- Microprocessamentoque levou o processamento de dados das mãos de grandes corporações;
- Telecomunicaçõesque popularizou a conectividade anteriormente restrita e cara;
- A revolução digitalque uniu processamento e internet, permitindo que um smartphone simples coloque o poder da criação nas mãos de qualquer pessoa.
Barreto apontou que esse processo abriu espaço para startups e empreendedores que anteriormente precisariam de investimentos milionários em infraestrutura.
O nó histórico do Brasil
A pesquisa da Brand Finance Brasil 2025 mostra que o país não tem marca nacional entre os 100 mais valiosos do mundo. Para Barreto, isso reflete profundas raízes históricas.
“O Brasil foi criado para não ser criativo. A lógica colonial era de obediência e sobrevivência, não de inovação”, disse ele. Ele enfatizou que a ausência de alternância de poder e pensamento mantinha estruturas burocráticas que favorecem grandes corporações, mas sufocam pequenas empresas.
Burocracia como uma ferramenta elétrica
Segundo o executivo, a manutenção da burocracia serve como um mecanismo de controle. “O grande empresário paga um advogado e consultor. O pequeno não tem como os salários da burocracia que querem crescer”.
Criatividade da escassez e seus limites


Questionado sobre a criatividade brasileira, muitas vezes exaltada no exterior, Barreto fez uma ressalva: “Sim, temos criatividade. Mas quando nasce da opressão e necessidade, vem com limites. É uma criatividade de sobrevivência, não uma ambição global”.
Esse padrão, disse ele, explica por que muitas empresas e projetos sociais permanecem locais. “O empresário ganha algum dinheiro, investe e se contenta. Ele não pensa em escalar, conquistando o mundo”.
Do piloto de escala
Barreto citou o exemplo de iniciativas sociais que aumentam a renda nas comunidades, mas não se expandem. Ele defendeu o modelo de financiamento baseado em resultados para permitir que projetos sociais e comerciais tenham uma escala nacional.
“Se resultar, se aumentar a renda, é possível financiar como dívida e não depender apenas da doação. A escala é o que muda a realidade”, disse ele.
Inteligência artificial: vetor de transformação
No mesmo painel, Barreto e outros executivos apontaram para Inteligência Artificial (AI) como uma ferramenta capaz de transformar todos os setores da economia.
Saúde e cuidados básicos
Barreto apontou que a IA pode revolucionar a saúde pública. “Se uma pessoa pode tirar uma foto da garganta e receber um diagnóstico inicial, a ansiedade já é reduzida e melhora a triagem médica”.
Educação e requalificação
Pedro Chiamulera, fundador da Clearsale, enfatizou que a IA não elimina empregos, mas funciona, exigindo constante requalificação. “Usar a IA como tutor pode ser a maior revolução educacional da história.”
Gestão de negócios
João Sobreira, do Advolve.ai, citou casos práticos de uso de IA, como a organização de registros em mercados. “Um agente de IA pode padronizar informações e evitar o retrabalho, liberando tempo e recursos para inovação”.
O perigo do “espírito europeu”
Barreto terminou seu discurso com uma crítica ao comportamento europeu para rejeitar o novo. Para ele, a falta de grandes empresas criadas recentemente no continente é o resultado de restrições e reclamações excessivas.
“Não podemos adotar esse espírito. Cinqüenta anos atrás, era possível bloquear produtos físicos. Hoje, tudo é digital. Ou o Brasil sobe ou será deixado para trás”, alertou ele.
O futuro da inovação brasileira
A mensagem do CEO da IFOOD ficou clara: o Brasil tem talentos, recursos e tecnologia disponíveis, mas precisa abandonar o medo, a crítica precoce e a mentalidade de sobrevivência. O desafio é transformar a criatividade em ambição global, ousadia em escala e inovação em marcas que representam o país no cenário internacional.
Imagem: Leonidas Santana/ Shutterstock