A investigação sobre fraude milionária na aposentadoria e pensões do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS) sofreu um revés legal significativo. O juiz federal Massimo Palazzolo, do 4º Tribunal Penal Federal de São Paulo, decidiu anular o Relatório de Inteligência de Inteligência Financeira (RIF) produzida pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF), que havia sido um dos principais documentos da investigação de INSs.
A decisão, ao determinar a nulidade de uma das principais evidências, não representa o fim das investigações. Segundo o magistrado, outras evidências obtidas por meios regulares são válidas e totalmente admissíveis no arquivo.
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RIF anulado por falta de autorização judicial

A principal justificativa para a anulação do RIF está na ausência de autorização judicial anterior para compartilhar o documento com a polícia federal. Segundo Palazzolo, a submissão direta do relatório ao órgão investigativo violou os princípios legais ao configurar um tipo de “expedição de pesca” – um termo usado para descrever a busca especulativa de evidências, sem delimitação ou autorização adequada.
“A busca indiscriminada de evidências pode levantar questões éticas e legais sobre privacidade e abuso do sistema jurídico, seguido de defeitos à investigação por violação dos direitos e garantias fundamentais”, afirmou o juiz na decisão.
A liminar foi concedida após uma solicitação da Associação de Aposentadoria Mutualista para Benefícios Coletivos (AMBEC), uma das organizações mencionadas no Relatório Geral do Controlador da União (CGU), que apontou irregularidades em descontos aplicados aos benefícios da Previdência Social.
A investigação continua com base em outros testes
Apesar da exclusão do RIF, o tribunal deixou claro que a investigação sobre o esquema fraudulento continuará. A operação da polícia federal também foi apoiada por outros tipos de evidências, como depoimentos, documentos apreendidos e movimentos bancários analisados a partir de autorizações legais.
Entre os investigados está Antonio Carlos Antunes, conhecido como “careca dos INSs”, nomeado como um dos principais articuladores do esquema de desconto ilegal para benefícios da Previdência Social. De acordo com o arquivo do caso, ele intermediou a adesão forçada de aposentados e pensionistas a associações que aplicaram cobranças inadequadas sob o pretexto de oferecer serviços ou vantagens.
Origem do impasse: o desempenho da coaf em questionamento
O ponto central da controvérsia legal gira em torno de como a CoAF compartilhou as informações. Conforme declarado na decisão, o pedido do RIF teria sido feito diretamente pelo PF à coaf, sem autorização judicial prévia. Isso violaria o entendimento da Suprema Corte (STF), que requer critérios estritos para compartilhar dados protegidos pelo banco e pela confidencialidade fiscal.
A defesa de Ambec argumentou que o uso do RIF sem autorização judicial adequada violava o direito ao devido processo legal. Os advogados Daniel Bialski e Bruno Borragine, que representam a associação, comemoraram a decisão:
“A forma e a garantia do devido processo foram respeitadas, e essa nulidade refletirá sobre outras medidas policiais que foram tomadas após a obtenção ilegal do RIF”, disse os representantes da entidade.
Implicações para outras ações de investigação
Embora a justiça tenha invalidado o uso do relatório como evidência, a medida não impede a continuidade das investigações. Ainda existem documentos, análise financeira autorizada, colaborações e etapas feitas com base em ordens judiciais, o que pode apoiar quaisquer reclamações ou ações criminais.
Especialistas apontam que essa decisão deve ter um efeito de cautela em futuras investigações que usam informações da COAF. O requisito de autorização judicial antes de quebrar a confidencialidade para fins criminais é um princípio reforçado, buscando equilibrar a luta contra a corrupção e a fraude com a preservação de garantias individuais.
Contexto da “Spree inss” e o impacto no segurado
A “Spree do INSS” surgiu após reclamações de que entidades e associações teriam descontos inadequados diretamente sobre os benefícios dos aposentados e aposentados, sem o consentimento expresso do segurado. Em muitos casos, os beneficiários nem sabiam que haviam se tornado “associados” a essas organizações.
O Controlador Geral da União (CGU) preparou relatórios detalhando como essas entidades operavam em parceria com servidores e agentes externos, levantando suspeitas de corrupção e associação criminal.
A pressão da sociedade civil, combinada com o avanço das investigações, levou a operações policiais federais e ações corretivas do Ministério da Seguridade Social.
Repercussão e próximos passos

A decisão judicial anula o RIF representa um alerta sobre os limites legais para o uso de dados financeiros confidenciais. No entanto, também deixa claro que a responsabilidade dos envolvidos na fraude da seguridade social ainda é possível.
Para o Serviço de Promotoria Pública e a Polícia Federal, o desafio agora será reorganizar as acusações e reforçar as evidências admissíveis dentro dos limites legais. O processo deve seguir com audiências, depoimentos e novas análises.
O judiciário, por sua vez, retorna para demonstrar o papel do guardião das garantias constitucionais – garantindo que, mesmo diante de investigações complexas, os direitos fundamentais sejam respeitados.
Com informações de: CNN Brasil