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terça-feira, julho 22, 2025

Quem são os autores indígenas que se destacam ao ‘expor feridas e expandir nossa visão de mundo’

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O pesquisador Trudruá Dorrico analisa como as mudanças nas políticas públicas, o desempenho dos líderes dos povos originais e a pandemia covid-19 deram voz e destaque a novos autores indígenas e ajudou a criar um novo movimento literário no país. Ailton Krenak é ativista e autor de Reprodução de livros em sua obra-prima, o escritor de São Paulo Márrio de Andrade (1893-1945) descreve Macunaíma como “o herói sem nenhum caráter”. Já nas tradições milenares do povo Macuxi, que habita regiões da Roraima, Guiana e Venezuela, Macunaíma está no panteão mais alto dos deuses – e é reconhecido como um grande xamã, uma figura sábia que criou muitas coisas. Este é apenas um exemplo de como as histórias indígenas são pouco conhecidas pelo público em geral e muitas vezes até substituídas ou ignoradas por outras narrativas. Mas parece que as coisas estão mudando: há um movimento literário que ganha cada vez mais força ao dar voz e destaque para novos autores indígenas. As temperaturas recordes devem persistir nos próximos cinco anos, alertar o novo relatório do clima Festival LED 2024 | Educação aqui e agora: Criando novos mundos com Ailton Krenak Esta é a avaliação do escritor Trudruá Dorrico, que fez um mestrado na Universidade Federal de Rondônia e concluiu um doutorado em cartas na Pontifical Catholic University of Rio Grande Do Sul (PUC-RS). Ela também realiza uma série de ações em redes sociais – como a iniciativa “Leia mulheres indígenas” – e participa de eventos públicos para promover essa literatura. “Esse movimento tenta mostrar que a vida indígena é complexa e tem um paradigma diferente do mundo moderno e ocidentalizado”, diz o pesquisador, que é da etnia de Macuxi. “Cruzado por 500 anos de violência colonial, essa literatura pode expor feridas, mas também faz reivindicações”. Filha da mãe guianena e pai peruano, Dorrico argumenta que “a leitura de autores indígenas nos permite ter contato com vários contextos e expande nossa visão de mundo, à medida que os autores vêm de comunidades, povos, biomas e regiões em todo o Brasil”. Mas por onde começar? Quem são os escritores indígenas que se destacam na literatura nacional? A cultura ancestral, uma recente exposição histórica “Hiromi Nagakura para a Amazônia com Ailton Krenak” chega ao CCBB RJ Hiromi Nagakura/divulgação durante a pesquisa acadêmica, Dorrico procurou mapear as obras que já haviam sido publicadas no país por autores indigos. Ao longo do processo, ela identificou alguns marcos que ajudaram a promover esse movimento literário. E a primeira delas foi a promulgação da Constituição Federal de 1988. “A aparência de escritores indígenas é análoga à Constituição, quando a plurietnia do país foi reconhecida pela primeira vez e a idéia de que os membros dos povos indígenas podem ser cidadãos brasileiros e permanecer com sua identidade”, lembra ela. O especialista avalia que, antes de 1988, todos os projetos de integração nacional realizados por vários governos – como o Indian Protection Service (SPI), a Fundação Nacional Indiana e o Estatuto Indiano – com o objetivo de “acabar com a identidade indígena” tentando incorporar esses indivíduos à sociedade brasileira. Após essa linha de raciocínio, a nova Constituição serve como um marco para entender que os indígenas podem manter sua cultura e tradições, embora seja um cidadão reconhecido pelo Estado Brasileiro. “Não por acaso, os primeiros trabalhos assinados por autores indígenas foram publicados no país entre os anos 80 e 1990”, diz Dorrico. Entre os pioneiros estão Oroé Awé Roiru, cada vez que nos despedimos de Kaka Werá e as histórias indianas de Daniel Munduruku. Pouco tempo depois, no início dos anos 2000, o próprio Daniel Munduruku se tornou um dos criadores de prêmios importantes que estimulam novos autores indígenas e o uso desses materiais nas salas de aula – casos de concursos de tamoios e curosidade, respectivamente. Outro marco importante aqui foi a promulgação da lei 11.645 de 2008, que tornou obrigatório o estudo da história e cultura indígenas e afro-brasileiras nas escolas. “Isso democratizou a demanda por literatura indígena nas salas de aula em todo o país e incentivou os professores a procurar novas obras e leituras”, diz Dorrico. O pesquisador cita um quarto ponto de virada: a pandemia Covid-19. “De repente, promotores de cultura, organizadores de eventos literários, os funcionários da universidade estavam juntos na Internet e houve um aumento no interesse em autores indígenas”, diz o especialista. A chegada de Ailton Krenak à Academia Brasileira de Cartas em 2023 é outro capítulo importante nesta história, já que ele foi o primeiro indígena a ser eleito para ingressar na instituição. Mergulhe em diferentes universos, mas como uma pessoa interessada no assunto pode saber mais sobre a literatura indígena? Dorrico cita três pontos que considera importantes – e o primeiro tem a ver com a idéia de acessar uma cultura diferente da sua. “Ao ler um romance da Coréia do Sul, por exemplo, você é colocado automaticamente em um código diferente que envolve linguagem, estrutura de livros, ordem de livro, roupas, ritmo e sons de palavras, entre outros”, ela se compara. “O mesmo acontece em contato com obras de literatura indígena, com a diferença de que eles usam o idioma português a ser publicado”, continua o pesquisador. “Nessas ocasiões, você entra em contato com o desconhecido para expandir seu mundo e mergulhar em um universo cultural diferente”. Dorrico cita o que acontece com sua própria etnia: o povo do Macuxi fala o idioma Karib, tem sua própria culinária, roupas específicas, cantos tradicionais … os trabalhos produzidos nesse contexto, portanto, seguem esse tecido de referências, tradições e culturas, que apresentam diferenças em relação ao resto do Brasil. “Eu sempre convido os professores a ler as obras dos autores indígenas nesta perspectiva plurinacional”, sugere ela. O segundo ponto levantado pelo especialista envolve a oralidade (ou o costume de contar e transmitir histórias por voz e conversa). “A oralidade não é uma base da literatura indígena. A oralidade é uma forma de sobrevivência”, ela diferencia. “Não temos documentos escritos, porque muitos deles foram destruídos com colonização. Nossas línguas foram perseguidas e caçadas. A oralidade era a maneira como nosso povo podia permanecer vivo”. Em terceiro lugar, Dorrico acredita que a literatura indígena precisa ser entendida pelo paradigma que os povos originais “nunca se divorciaram da terra”. “Os povos indígenas são sociedades conectadas à terra, ao território e à floresta”, diz Dorrico. “Este é um relacionamento que foi construído há muito tempo. Os povos indígenas reconhecem os espíritos e conversam com eles. Os sonhos são muito importantes e constituem uma instituição séria”, diz o pesquisador. “Precisamos entender que todos os autores indígenas vêm de povos que ainda são casados ​​com a floresta e têm essa afiliação milenar com a própria terra. Quando você entende esses paradigmas, pode entender melhor essa literatura”. Mas isso, é claro, não significa que os autores indígenas apenas escrevem sobre coisas relacionadas ao folclore ou cultura da qual eles fazem parte. “Eles têm liberdade poética para abordar tudo, e mesmo muitas vezes nem mencionam a identidade indígena. Eles falam sobre nascimento e morte, criação mundial ou histórias de aventura”, diz ela. Autores para ficar de olho nos escritores que fazem parte desse movimento literário, Dorrico responde que o grupo é diverso – e há opções para todos os gostos e gêneros literários. “Lia Minipoty e Yaguarê Yaman têm obras maravilhosas de aventura e ação”, ela menciona. “Há também o poeta Tiago Hakiy, Roni Wasry Guará, Eliane Potiguara, Edson Kayapó …” O pesquisador também citou o trabalho de Grace Gra, Ytanajé Coelho Cardoso, Auritha Tabajara, Cristino Wapichana, entre outros. O próprio Daniel Munduruku, mencionado anteriormente, é uma das grandes referências do movimento – e foi reconhecido com dois prêmios Jabuti e honras da Academia Brasileira de Cartas e da Educação, Ciência e Cultura das Nações Unidas (UNESCO). Ele é um dos responsáveis ​​pela bibliografia das publicações indígenas do Brasil, uma iniciativa que tenta compilar tudo o que é produzido por autores que vêm dos povos originais. Dorrico também organizado pela editora Companhia Das Letrinhas, o livro original: uma antologia feminina da literatura indígena, que faz uma compilação de contos. Durante o doutorado na PUC-RS, ela mapeou autores indígenas e publicou obras. Para organizar o trabalho, ela fez uma classificação de acordo com os seis biomas brasileiros. “Encontrei escritores na Amazônia, Caatica, a Floresta Atlântica, o Cerrado e o Pantanal. Na época, eu simplesmente não identifiquei ninguém nos pampas”. Possíveis diálogos com o passado A literatura indígena chamada é usada para elementos dos grupos étnicos que habitam (ou habitam) o Brasil para criar uma idéia de identidade nacional ou alguns mitos fundadores. Os exemplos clássicos aqui são Iracema e Guarani, de José de Alencar (1829-1877), e o acima mencionado Macunaíma, de Mário de Andrade. O que esses trabalhos revelam sobre o país – e como eles interagem com o novo momento da literatura indígena? Na visão de Dorrico, esses livros fazem parte de movimentos literários importantes, mas não podem ser lidos sozinhos ou sem um contexto adequado. “Eles contam uma parte da história, mas omitem muito. Eles podem servir como um ponto de contato para criarmos diálogos com os tempos contemporâneos e o que é produzido hoje”, diz ela. “Em iracema, José de Alencar fala do povo Tabajara localizado no topo da Serra da Ibiapaba, Ceará.” “Mas atualmente temos Auritha Tabajara, que vem da mesma comunidade que o topo de Ibiapaba. Ela tem cordas muito bonitas nas quais contestam a imagem de um iracema submisso e bonito que estava de acordo com os ideais colonizadores”, diz Dorrico. Já em Macunaíma, o especialista lembra que Mário de Andrade teve contato com os relatórios de viagem do explorador alemão Theodor Koch-Grunberg (1872-1924) através da região de Roraima na década de 1920. “Este é um trabalho totalmente construído com base nos valores do meu povo, mas o personagem principal tem uma mácula, é um ‘herói sem caráter'”, lembra ela. Dorrico analisa que o movimento modernista, do qual Andrade foi um dos Baluartes, tentou “trazer valores estéticos e elementos indígenas para a literatura brasileira”, como antropofagia e uma certa idéia de ociosidade. “Mas esses princípios e valores morais são frequentemente usados ​​para desumanizar os povos indígenas e se apropriar de seus territórios”, ela critica. Na avaliação do pesquisador, a criação da estética brasileira do modernismo tenta criar “um ideal brasileiro baseado em valores indígenas, como o sagrado e o místico, mas sem presença de povos indígenas”. “E a antropofagia sempre foi retratada por cronistas e viajantes literários como selvagens e um argumento de que as pessoas originais precisavam de Deus, a Igreja e o Estado”, acrescenta ela. “Mas o genocídio dos povos indígenas não era selvagem? E o assassinato de milhares de famílias? E o extermínio de populações inteiras?” Para Dorrico, “a literatura indígena chega à literatura brasileira madura”. “A literatura indígena contribui e discute noções e elementos culturais que estão intactos há muitos séculos”, ressalta. O pesquisador vê de maneira ideal o fato de que as pessoas adotam cada vez mais o termo “literatura indígena”. “Há pouco tempo, havia uma timidez em classificar esse movimento. Mas as pessoas estavam abraçando a idéia e cada vez mais usam esse nome sem medo”, observa ela. “Se você procurar arquivos de universidades, já encontra pesquisas e artigos que analisam esse problema”. Entre possíveis avanços, Dorrico aponta para a necessidade de falar da literatura indígena em grandes provas e competições nacionais. “Nunca tivemos uma pergunta interpretativa sobre esse tema no inimigo”, diz ela. “As perguntas sobre questões indígenas são sempre documentais, referenciam e nunca levam em consideração a perspectiva literária”. “O Brasil esquece muito rápido dos povos indígenas. Precisamos continuar falando sobre isso e incentivar mais ações”, conclui o especialista. “Estamos estrangulando os ecossistemas inteiros”, diz Ailton Krenak sobre o aquecimento GL



Fonte Seu Crédito Digital

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