Especialistas ouviram por DW afirmar que esse pessimismo do Brasil ainda está presente na imaginação do país, que oscila entre períodos de ênfase maior ou menor. Débora Bloch brilha como Odete Roitman e resgata raízes teatrais no remake de Vale tudo recentes realizações de atletas e artistas brasileiros ajudaram a animar o orgulho nacional. No entanto, a idéia de inferioridade do país contra nações desenvolvidas persiste na imaginação popular. “Este país não avança porque as pessoas não gostam de trabalhar, é um povo preguiçoso”. O discurso é da empresária Odete Roitman, personagem viveu pela atriz Debora Bloch no remake da novela Vale Tudo da TV Globo. A atriz já afirmou que o vilão incorpora o complexo mutt subestimando tudo o que é nacional. Para o autor da nova versão do enredo, a Manuela Dias, falar mal do país “está saturada”. Em 1958, o escritor Nelson Rodrigues foi quem nomeou esse traço de inferioridade contido na cultura brasileira. Na crônica “na sombra dos chuveiros imortais”, publicada na revista Manchete, o autor diz que o brasileiro “é um narciso estreito, que cospe em sua própria imagem”. Mas ele argumentou que essa “falta de fé em si” foi superada quando o time de futebol masculino ganhou o primeiro título da Copa do Mundo contra a Suécia depois de vencer outras equipes européias. No entanto, os especialistas ouviram por DW afirmarem que esse pessimismo do Brasil ainda está presente na imaginação do país, que oscila entre períodos de ênfase maior ou menor. Enquanto as críticas encarnadas por Odete Roitman em 1988 e em 2025 ainda ecoam em público, por outro, a projeção de atletas e artistas brasileiros em competições e prêmios internacionais contribui para reavivar o orgulho nacional. Como: da ginasta Rebeca Andrade, que ganhou a medalha de ouro nas Olimpíadas de Paris e em maio deste ano; Hugo Calderano, que levou prata na copa do mundo do tênis de mesa; “I’m Still Here”, de Walter Salles, que ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro; e “The Secret Agent”, de Kleber Mendonça, Filho, que ganhou a palmeira de ouro de melhor ator e dirigiu -se ao Festival de Cannes. O caráter Odete Roitman é vivido por Débora Bloch Globo/Estevam Economia Estelar da Inferioridade O pesquisador da Universidade Federal da ABC (UFABC) Gilberto Maringoni ressalta que, embora a cultura e o esporte sejam uma respiração, eles são insuficientes para justificar esses momentos de maior euforia. Ele lembra que, no contexto da Copa do Mundo de 1958, o país estava passando por um período de ascensão econômica, com a construção de Brasília e o impulso à industrialização. No entanto, desde a década de 1980, o país passou por tempos de hiperinflação e desemprego e indústria tem cada vez menos participação no produto interno bruto (PIB). “A economia está passando por um voo constante de galinha, os inchaços e não pode decolar. Quando precisamos importar tecnologia, por trás disso, existe a idéia de que não somos capazes de produzi -la, o que reforça a perspectiva de que tudo o que é estrangeiro é melhor. Ou quando o país se concentra na exportação de mercadorias, é como se não pudesse produzir bens sofisticados, mas o Brasil tem a habilidade. Uma pesquisa divulgada pela Atlasintel Consultancy em abril mostrou que, na percepção de 44% dos brasileiros, o cenário no mercado de trabalho é ruim. Outros 37% disseram que a situação econômica da família é desfavorável. Além disso, eles indicaram como os maiores problemas do crime do país e do tráfico de drogas, corrupção e inflação. Portanto, o economista Eduardo Giannetti diz que em 2025 o Brasil está no meio do espectro entre sentimentos de inferioridade e auto -estima. “O Brasil viveu um momento de quase euforia no final do segundo mandato do governo Lula, quando havia um caminho muito promissor de crescimento econômico com o aumento da classe média. Agora, é improvável que o país tenha uma forte condição de confiança quando a economia não está indo bem”, disse ele. Para Giannetti, esse pessimismo tem a ver com a visão de uma elite econômica e acadêmica sobre o país. “De acordo com essa visão, somos uma cópia ruim da civilização moderna na Europa e nos Estados Unidos, que desconsidera o Brasil como uma opção cultural em um modo de vida mais orientado para a vida do que para consumo, tecnologia, eficiência”. Prêmio de raiz colonial “estou aqui ainda aqui” Oscar® para pesquisadores, esse discurso da inferioridade brasileira tem sido associado à formação do país desde a colonização e a malha entre europeus, povos indígenas e povos africanos que foram escravizados. “Para forçar um escravo a trabalhar, não foi suficiente ter o chicote e a corrente, era necessário convencê -lo de que era inferior e não previa nada. Com isso, o complexo de vira -lata é inoculado ao povo, pelo colonizador ou pelas classes dominantes”, explica Maringoni. Segundo o pesquisador, após a abolição da escravidão em 1888, a imigração dos trabalhadores europeus para o Brasil “aumentou a percepção do vira -lata da idéia da Clagiania”. Ele lembra que os intelectuais da época, como Nina Rodrigues e Silvio Romero, se apoiaram contra noções de racismo científico para justificar que o Brasil seria um país inferior por causa da mistura étnica. Eduardo Giannetti diz que essa perspectiva contribuiu para a identificação cultural com pessimismo. “Mas parece -me altamente enganador chamar esse sentimento de inferioridade complexa”, diz ele. “Por que eleger o vira -lata como o que temos pior? A viral é miscigenação. Há implicitamente nessa metáfora um subtexto de que o puro é superior ao misto. Considero isso muito sério, denota uma discriminação racial. O verdadeiro complexo de vira -lata é a idéia de que há algo errado em girar lactos”. Superando o viralismo e o passado colonial, hoje a idéia de inferioridade do povo brasileiro persiste. Para o filósofo Marcia Tiburi, que carrega o complexo mutt não são as populações -alvo dessa narrativa, mas as classes sociais dominantes. “Essa humilhação é uma tecnologia política usada pelos proprietários do poder, que são os donos da violência, em um país colonizado, patriarcal e racista como o nosso, para explorar as mais pobres, mulheres e negros”. Ela ressalta que, com o tempo, a repetição dessas idéias por intelectuais e membros de uma elite social e acadêmica fez com que seja considerado verdadeiro. “Por exemplo, essa idéia foi criada de que os brasileiros não funcionam. Quem viveu na Europa sabe o quanto os brasileiros trabalham muito. Esses são discursos que funcionam por repetição e que criam essa verdade que domina a subjetividade como um todo”. No entanto, Tiburi observa que os grupos -alvo daqueles que reproduzem o discurso do complexo mutt começaram a se organizar em movimentos sociais, como preto e feminista, a fim de se dissociar de um estereótipo negativo. “As populações humilhadas estão superando a humilhação por meio de movimentos sociais, onde as pessoas criam consciência. Vemos hoje uma escuridão orgulhosa de si mesma no Brasil”. Para suplantar a sensação de que o país não deu certo, os especialistas consideram que é preciso mais do que uma mudança de mentalidade, é necessário fornecer melhores condições de vida para a população, em relação ao ensino, transporte, segurança e saneamento, por exemplo. Os dados oficiais apontam dificuldades, como 29% de analfabetismo funcional, falta de acesso ao sistema de esgoto em 37,5% das casas, além da persistência da insegurança alimentar em 27,6% das casas. “Temos uma série de desafios práticos que o país não conseguiu abordar a firmeza necessária”, diz Giannetti. “Eu acho que tão importante quanto mais a agenda dos pés é a agenda simbólica. Oswaldo de Andrade, coloca a pergunta: tupi ou não tupi? Aqui está a resposta é tupi e não tupi. Vamos absorver os elementos essenciais da cultura ocidental moderna, na tecnologia, a tecnologia, mas sem perder o que nos distingue como cultura fiada”.
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